VAI EMBORA MACRI! UMA MIRAGEM NO DESERTO DO ATACAMA
- paraumnovocomeco
- 28 de fev. de 2021
- 4 min de leitura
30/10/19

por José Luiz
Em 2015 o povo argentino, havia posto fim aos governos justicialistas de Nestor Kichner e Cristima Kichner que governavam o pais desde 2001. Com a vitória de Macri, veio a esperança liberal pois o candidato aparentemente era crítico do pensamento populista, embora no decorrer de sua vida política sempre esteve associado ao populismo tendo como principal capital político um dos times de futebol mais populares da Argentina, o Boca Juniors, do qual foi presidente de 1995-2008. Maurício Macri, utilizou-se do Boca Juniors como baluarte para se promover e se eleger como prefeito da cidade de Buenos Aires, fazendo contratações milionárias como o ídolo Juan Román Riquelme em 2007. A gestão vencedora do Macri no Boca Juniors deu credibilidade e prestígio para a sua campanha vencedora para prefeito de Buenos Aires. Como prefeito da cidade fez uma gestão bem polêmica, privatizou praticamente todos os serviços da cidade, mas obviamente bem avaliado pela mídia como gestor público, ou seja, não era mais aventureiro, o que deu lastro para sua candidatura vencedora para presidência da República Argentina em 2015. Daí foi construído o termo o “efeito Macri”, o choque do liberalismo latino americano. As direitas das nações vizinhas comemoraram muito a sua vitória, principalmente aqui no Brasil. Em 2015 quando Macri assumiu a presidência fez diversas promessas e o carro chefe de sua campanha é de que iria tirar o povo argentino da pobreza - prometia 0% (zero porcento) de pobreza. Porém ao final de seu mandato está entregando o país com 35,4% da população na linha ou abaixo da linha de pobreza, o mais alto da década. Na infância, o índice é ainda mais alarmante: atinge 52,6% das crianças de 0 a 14 anos. Essas foram outras promessa de campanha ou a miragem macriana: • Diminuição da a inflação. • Valorização do câmbio (a valorização moeda) • Desburocratização na abertura de empresas. • Incentivo a produção e ao comercio, na criação do emprego • A diminuição da Dívida Argentina. Bom, nada disso aconteceu fora que temos que lembrar que o Macri teve dois apoiadores importantes na América, Michel Temer e Donald Trump. Mesmo assim, a gestão na Argentina foi um desastre. Em 2018 o golpe foi acusado na Argentina, as desculpas de Macri como “eu peguei uma herança maldita” não colavam mais, a Argentina entrou em crise econômica e a riqueza até então sonhada virou um devaneio ou uma miragem. O emprego não aconteceu, porque, no seu mandato registrou recordes de falência de empresas e micro empresas, com aumento de impostos. As taxas de serviços ficaram mais caras como, por exemplo, telefonia, gás natural, água, energia elétrica e combustível. Isso contribuiu com a falência das empresas de serviços. Isso trouxe reflexos na gestão Macri sobre o descontrole da inflação e a desvalorização cambial. A primeira demonstração do fracasso macriano foi em novembro do ano passado quando a Argentina foi sede da reunião do G-20, a população foi às ruas para demonstrar para o mundo o desastre em que viviam e vivem os argentinos. Neste ano Macri veio ao Brasil para fechar apoio com Jair Messias Bolsonaro; o mesmo foi à Argentina em março e foi recebido por vaias nas ruas de Buenos Aires. Macri também foi buscar apoio no Chile com o Piñera. Antes das prévias de agosto, o presidente Macri congelou preço de 50 mercadorias, como medida populista para aliviar a crise de três anos de mandato, porém, não resolveu o problema. Depois das prévias injetou 130 bilhões de dólares para controlar o câmbio. E um efeito Macri neste anos, a Dívida Pública da Argentina está igual ao valor do PIB. Como as pesquisas indicavam uma vitória do candidato do Partido Justicialista (peronista) Alberto Fernandes, Bolsonaro e Trump entraram em ação para o fortalecimento de Macri. Vale lembrar que Trump e Macri são amigos pessoais, vamos dizer que frequentam os mesmos clubes, tanto que indicou a Argentina como membro do conselho da O.C.D.E (Organização de Cooperação e de Desenvolvimento Económico). Em 27/10/2019, o povo argentino disse não as farsas de quatros anos do governo Macri, com o retorno do Justicialismo na presidência do pais com de Aberto Fernandes e como vice a Cristina Kichener. No entanto, se o resultado final das eleições em Argentina, deixa um cenário para comemorar pela contundente derrota de Macri sem direito a um segundo turno, por outro lado deixa também vários elementos preocupantes. Primeiro que o macrismo conseguiu aumentar 2.348.000 votos em apenas dois meses e meio da surra que havia levado nas Primárias de 11/08, onde obteve 8.121.000 votos, alcançando ao final 10.470.000 votos. E isso no meio de uma crise econômica e social terrível, o que coloca a esta força política de direita como uma oposição de peso, e conservando muito poder. Além disso, teve distritos como a cidade de Buenos Aires onde atingiu 50 por cento ou mais dos votantes. Também em províncias importantes, como Córdoba e Mendoza. Ou seja a divisão e polarização com a direita e ultradireita deve continuar. O kirchnerismo conseguiu apenas manter seu número de votantes em relação às Primárias. Sumou 250.000 votos (12.205.000 vs 12.473.000). Já a esquerda socialista revolucionária retrocedeu de 2,8 a 2,2 por cento, refletindo o cenário de polarização entre macrismo e peronismo. A surra em Macri foi menor que o esperado, e isso se deveu em parte a que diante do brutal agravamento da crise depois das prévias de agosto, a campanha da “Frente de Todos” não apresentou nenhuma alternativa, preferiu dar sinais de boa vontade ao FMI, aos credores e ao grande capital e deixou que Macri passasse à ofensiva. Agora se verá que esses gestos não resolvem nada e se abre um novo capítulo que exigirá definições que ponham a prova a unidade da Frente de Todos e ao mesmo tempo a capacidade de luta dos de baixo para reconstruir alguma alternativa anticapitalista. Sobretudo o que pode construir essa alternativa é a independência frente ao governo, a luta nas ruas e a organização popular de base como forma de pressionar e exigir as medidas emergenciais frente aos graves problemas na Argentina e também construir uma alternativa anticapitalista e socialista para o país.
Outubro de 2019
*Professor, integrante do "Para Um Novo Começo" – Centro Político Marxista
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