top of page

PÓS-ELEIÇÕES: O QUE VEM POR AÍ E OS DESAFIOS

  • paraumnovocomeco
  • 10 de abr. de 2021
  • 4 min de leitura

06/12/2020


Nota Política de balanço das eleições municipais de 2020


Apesar dos limites e contradições que envolvem as eleições, estas são um objeto importante para identificarmos os movimentos subjetivos, os níveis de cooptação das consciências e a disposição em fazer algo no contexto sócio-político atual, imediato e a médio/longo prazo. Algumas considerações precisam ser feitas a partir dos números finais do 2º turno das eleições municipais:

- O bolsonarismo e a igreja universal saem mais fracos do processo eleitoral mas não derrotados;

- O índice de abstenção superou a marca dos 40% do eleitorado nas principais regiões do país sendo que isto muito se deve a pandemia e ao trabalho aos finais de semana e à ampliação da informalidade, mas também por um descrédito com o sistema político brasileiro;

- Estamos diante de uma crise estrutural da representação política institucional que é parte da crise estrutural do capital;

- É nítido que houve o fortalecimento do chamado Centrão e da direita fisiológica tradicional (DEM, PSD) e com o MDB continuando com um peso político importante; outros partidos menores de direita e até ultradireita se fortaleceram.

- O projeto neoliberal continua prevalecendo enquanto alternativa política do capital em nosso país, sobretudo, com a vitória do candidato do PSDB em SP;

- A ida de Guilherme Boulos ao 2º turno das eleições da capital paulista representou um alento importante a uma vanguarda que vinha cabisbaixa em virtude dos acontecimentos políticos a partir de 2016;

- O desgaste do PT é muito grande mas, apesar de não ter ganho nenhuma prefeitura nas capitais, ainda assim elegeu no 2º turno as prefeitas de Contagem (Grande BH), de Juiz de Fora (MG), Diadema e Mauá no ABCDMRR paulista. Além disso, foi o partido mais envolvido nas disputas do segundo turno no último domingo;

- Por fim, estamos imersos em uma crise de alternativas socialistas, que nos últimos anos até se aprofundou. Além da perda dos horizontes socialistas e da mundialização do capital, temos profundas mudanças na classe trabalhadora processos que apontam para uma nova reconfiguração global do capital acelerada pela pandemia. A queda das experiências do chamado “socialismo real” que na verdade não eram socialismo de fato e no Brasil mais recentemente a queda - pela direita e ultradireita - da experiência do PT de 12 anos de governo, tudo isso teve e tem impactos objetivos e também subjetivos. Para ficar apenas em um exemplo: De acordo com economista britânico Andreas Bieler, em entrevista ao Brasil de Fato:

"Uma das formas de acumular capital é fazendo o trabalho ficar mais barato, o que é feito pela informalidade. Você transfere o risco da empresa para o indivíduo”, disse. Uma das consequências desse processo, segundo ele, é um enfraquecimento da consciência de classe, porque os trabalhadores ficam mais inseguros e têm mais dificuldade de se organizar coletivamente.” (Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/.../neoliberalismo...).

“Sem organização e com a qualidade de vida em queda, trabalhadores tornam-se suscetíveis ao pensamento conservador. “Quando as pessoas têm seu meio de vida ameaçado, elas se tornam potencialmente abertas ao discurso da direita[...]” Idem

Reafirmamos o que dissemos em nossa nota anterior: “O embate ao neofascismo ao conservadorismo e ao fundamentalismo religioso das igrejas neopentecostais não é página virada e ainda perdurará por algum tempo.” (Eleições 2020: contradições, desafios e posição no 2o turno)

No entanto não cabe à esquerda revolucionária ficar esperando a classe trabalhadora fazer todas as experiências negativas para só depois se apresentar como sua “dirigente”. Também não cabe simplesmente esperar o desgaste da direita e ultradireita para tentar capitalizar eleitoralmente nas próximas eleições.

A realidade nos impõe um enorme desafio prático de defesa da prioridade das lutas frente à atuação institucional (mesmo sem abandonar essa esfera de atuação), sua unificação não apenas prática mas na busca de um programa mínimo comum que possa se constituir em projeto alternativo, e na construção de alternativas práticas de produção como as hortas comunitárias, redes de combate à violência e o genocídio do povo negro, saraus, e outras a partir das bases, das periferias e demais territórios.

Esses setores, que tentam ser hegemônicos e em parte conseguiram com a eleição do Bolsonaro em 2018, precisam ser combatidos diuturnamente. Mas os resultados finais das eleições no último domingo e o aprofundamento da crise de alternativas, como vimos acima, nos mostra que também não podemos nos esquecer de combater o bloco político encabeçado pelo Centrão, PSDB, DEM e siglas menores que defendem o mesmo projeto, com o Avante, PROS, PSL, Novo e Podemos, pois, de conjunto, toleram a regras institucionais, aplicando uma democracia de baixa intensidade, impõem sobre os nossos ombros o receituário neoliberal e, em algumas situações, uma agenda neoliberal ou mesmo ultraliberal.

Em base a isso tudo as eleições que se encerraram no último domingo, sobretudo em razão da disputa de São Paulo (capital), mas também em Recife, Porto Alegre, Vitória (ES) e em colégios eleitorais importantes, como Guarulhos (SP), Feira de Santana (BA), Vitória da Conquista (BA), possibilitaria alavancar um movimento de enfrentamento a agenda econômica e política reinante em nosso país, que vem retirando direitos históricos, que avança em inúmeras privatizações e criminaliza ativistas e movimentos sociais no campo e na cidade. Ou seja, permitindo conquista de um espaço político promissor depois de um longo período de derrotas.

Apesar disso, conforme dissemos acima, há um alento que pode ser muito importante no período mais adiante. Sobretudo, em São Paulo capital, mas também em outras regiões do país, um percentual elevado de jovens passou a se identificar com as ideias de esquerda ainda que difusas o que, apesar dos limites e contradições, poderá colocar a médio e longo prazo a esquerda anticapitalista em uma posição política de maior destaque e maiores responsabilidades também.

Comments


bottom of page