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O GOVERNO LULA PERANTE AS AÇÕES DA EXTREMA-DIREITA

  • paraumnovocomeco
  • 6 de jul. de 2024
  • 4 min de leitura



06/07/2024


Esta é 1a parte de um texto que acabamos de produzir tratando do acirramento da pressão do mecado financeiro, empresariado como um todo, grande mídia sobre o governo Lula, somando-se a isso a reorganização da extrema direita.

Isso coloca novos e maiores desafios para a esquerda e os movimentos sociais como um todo.

Observações, críticas e sugestões são bem vindas.


No dia primeiro de janeiro de 2023, em cerimônia de posse organizada para passar uma mensagem de diversidade, com pessoas representando as mulheres, deficientes físicos, indígenas, LGBT etc. subindo a rampa junto com o presidente e a primeira-dama, Lula assume o seu terceiro mandato. Ao redor do Palácio do Planalto a multidão entoa a palavra de ordem “Sem anistia!”, em referência aos crimes cometidos pelo governo Bolsonaro na condução da resposta à pandemia (mas não só).

A queda da popularidade decorrente da condução desastrosa e criminosa da pandemia, aliada a piora importante das condições de vida da população, sepultou as chances de reeleição de Bolsonaro contra um candidato que mantinha apelo popular como Lula. Mesmo lançando mão do uso indiscriminado da máquina pública, cometendo crimes eleitorais em série (de liberação de auxílios financeiros ao uso repressivo da PRF contra eleitores de Lula), Bolsonaro foi derrotado.

A resposta da extrema-direita derrotada eleitoralmente foi iniciar imediatamente um movimento de agitação tentando emplacar a narrativa de que a eleição teria sido fraudada. Com a cumplicidade do Ministério da Defesa e do alto comando das FFAA, acampamentos de apoiadores fanatizados de Bolsonaro são montados em frente a quartéis, pedindo explicitamente por um golpe de Estado com a intervenção militar. Se, por um lado, tais acampamentos e manifestações foram palco para manifestações bizarras e ridículas, o seu sentido era tudo menos leviano: faziam parte da construção de uma justificativa para impedir a posse de um governo eleito dentro das regras vigentes.

Retrospectivamente, vemos que se ia construindo as condições para que uma decretação de Estado de exceção, usando de forma espúria artigos da própria Constituição Federal, estava em curso. No dia 12/12, diplomação do presidente eleito no TSE, manifestações violentas ocorreram em Brasília, inclusive com ataques a delegacias, sem qualquer repressão efetiva aos manifestantes. No dia 24/12 uma tentativa de explodir um caminhão-tanque de combustível junto ao Aeroporto de Brasília é impedida e dois dos executores são presos. Conforme depoimento de ambos, o plano foi gestado no acampamento em frente ao QG do Exército e mostra que havia a intenção de replicar a tática que fora empregada em 1980 no atentado do Riocentro: causar um evento violento, com possíveis vítimas, para justificar a adoção de uma suspensão da ordem constitucional.

Com o fracasso das tentativas de impedir a posse, a estratégia passa para conseguir a derrubada do governo já empossado. Os ataques realizados em 08/01/23 são a tentativa da ala mais radicalizada da extrema-direita, organizada pelos setores mais radicais ligados às forças armadas e aos órgãos de segurança, de forçar o emparedamento e a queda do governo através da decretação de uma GLO (Garantia da Lei e Ordem). Caso Lula tivesse feito isso, em vez de uma intervenção federal limitada ao DF, seu governo efetivamente findaria no dia 09/01 e se abriria um período de instabilidade e repressão. Setores das forças armadas que não se envolveram diretamente na organização do 08 de janeiro, por considerarem que não haveria apoio internacional à ruptura da ordem constitucional, poderiam repensar e aderir uma vez que a estratégia funcionasse (algo que já ocorrera no próprio golpe militar de 1964).

É preciso colocar que um personagem importante na possibilidade de que esta estratégia fosse implementada se encontrava (e continua) dentro do próprio governo Lula: o Ministro da Defesa José Múcio. Foi Múcio que advogou para que o governo recém-eleito não dissolvesse imediatamente os acampamentos golpistas, argumentando que eles acabariam por mero cansaço; foi também ele que, perante os eventos de depredação, pediu ao presidente que acionasse uma GLO. A manutenção de José Múcio a frente do ministério da Defesa até hoje, agindo como porta-voz dos militares e não como representante do poder civil eleito sobre eles, nos diz muito sobre a fraqueza estrutural do governo Lula em lidar com a ameaça da extrema-direita.

Perante a comoção nacional e ao repúdio internacional da depredação e da tentativa de golpe, o governo Lula tinha uma janela de oportunidade para assentar um golpe firme sobre os redutos da extrema-direita assentados dentro do Estado e capitalizar o sentimento da população contra os golpistas. Poderia ter chamado uma cadeia nacional de rádio e televisão e feito um pronunciamento à nação, não só condenando os golpistas, mas nomeando Bolsonaro e seus asseclas como mandantes, jogando o sentimento popular contra eles. Não o fez. Poderia ter exonerado o Ministro da Defesa e colocado no lugar um que cumprisse o papel de superior dos comandantes militares e não seu porta-voz. Não o fez. Poderia ter assinado a passagem para a reserva de todo o alto comando das forças armadas que foi cúmplice do governo Bolsonaro e de sua estratégia golpista. Não o fez. Poderia ter expurgado dos órgãos federais (especialmente os de segurança como a ABIN e o GSI) todos os comissionados ligados ao bolsonarismo. Não o fez. Poderia ter reconstituído todos os conselhos extintos por Bolsonaro nos primeiros meses de seu governo e ampliado um espaço de interlocução com os movimentos sociais por fora do Congresso. Não o fez.

Ao optar por se limitar estritamente aos movimentos dentro da camisa de força dos gabinetes e corredores das instituições, ao limitar a ação positiva a uma caminhada com os líderes do Congresso e do Judiciário aos prédios depredados, o governo abriu mão de enfraquecer a extrema-direita e lhe deu o tempo necessário para se reorganizar.

Não é, portanto, de se espantar que quase um ano e meio após os eventos de 08 de janeiro a extrema-direita não só tenha se reorganizado mas aja hoje com desenvoltura comandando a pauta política para emparedar o governo e se articulando para constituir uma candidatura viável à sucessão presidencial em 2026.



PARA UM NOVO COMEÇO - Centro Político Marxista

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