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FORA OTAN E PUTIN DA UCRÂNIA!

  • paraumnovocomeco
  • 5 de mar. de 2022
  • 7 min de leitura

Pelo cessar-fogo imediato e negociações de paz!


05/03/2022




No dia 24 de fevereiro a Rússia iniciou a invasão da Ucrânia em três frentes, através das fronteiras da Criméia, com a região do Donbass e ao norte a partir da Bielorrússia. A invasão foi precedida pelo reconhecimento russo três dias antes da República Popular do Donbass e da República Popular de Luhansk, regiões do leste ucraniano que se declararam autônomas em 2014, e desde então em conflito armado com a Ucrânia. Em sua justificativa para a invasão a Rússia alega estar em curso um projeto de “genocídio” contra as populações de origem russa na região, a necessidade de “desnazificar” a Ucrânia e, como motivo principal, o risco à segurança nacional russa da entrada da Ucrânia na OTAN.


A denúncia russa de uma ameaça militar ocidental à sua segurança, via OTAN, não é falsa. Criada em 1949 para conter o “expansionismo soviético e o comunismo” a Organização do Tratado do Atlântico Norte é uma aliança militar capitaneada pelos EUA, alegadamente uma “aliança defensiva”, mas que esteve envolvida na 1ª e 2ª Guerra do Iraque, na guerra ao Afeganistão e na guerra da Síria. A manutenção da OTAN, mesmo com o desaparecimento de sua razão de criação com o fim da URSS, mostra que ela é efetivamente um braço militar de dissuasão e/ou intervenção das potências ocidentais, majoritariamente orientada pelos interesses de seu maior financiador, os EUA. Após 1991, a maioria dos novos membros da OTAN foram nações do leste europeu pertencentes ao ex-bloco socialista, com a exceção de Belarus (Bielorrússia) e Ucrânia. Basta olhar o mapa da Europa para entender a posição russa nesta questão.


Por outro lado, a Rússia, sob o comando de Vladimir Putin desde 1999, buscou superar o caos econômico e social da década de 1990 (então sob comando de Boris Yeltsin) e retornar à posição de grande potência mundial. Sob Putin a economia foi reorganizada, com uma aliança com a grande burguesia pós-soviética (os bilionários denominados “oligarcas russos” pela mídia ocidental, como se bilionários de qualquer nação não fossem membros de uma oligarquia), conjugando crescimento econômico, ampliação do mercado externo. Nesta aliança, em contrapartida ao enriquecimento da burguesia russa, foi garantido que este pudesse suprimir qualquer oposição política real, assim como a subordinação da mídia russa aos ditames políticos do Kremlin.


Tendo fechada desde o fim da URSS a possibilidade de ingressar na UE e na OTAN (cuja possibilidade foi sondada por Yeltsin e rejeitada pelos EUA), a opção de Putin foi a de garantir para a Rússia a constituição de um polo geopolítico próprio, no qual os países em sua fronteira leste constituem área sensível para a segurança nacional. Neste processo, Putin investe na construção de uma ideologia justificativa baseada no conservadorismo e nacionalismo, rechaçando o que considera degenerações ocidentais (feminismo, igualdade de gênero etc.) e o conceito liberal de democracia representativa. O apoio da Igreja Ortodoxa russa é parte importante desta construção ideológica, assim como o aporte de ideólogos neofascistas, como Alexandre Dugin.


Se Belarus é um país visceralmente aliado à Rússia, a Ucrânia se mostrou com um cenário mais complexo e desafiador. Em 2004 ocorre a denominada Revolução Laranja que impede a posse do presidente eleito Viktor Yanukovich, por manipulação eleitoral, tornando-se presidente o opositor Viktor Yushenko. Neste processo já se observa o surgimento de grupos nacionalistas ucranianos e a demanda pelo afastamento da Rússia e aproximação da UE e EUA. Em 2010 Yanukovich é eleito presidente, mas, em 2013, após rejeitar um projeto de associação à UE, iniciam-se protestos de defensores da aproximação com a UE (cujos mais famosos se dão na praça Maidan, na capital Kiev, daí o nome Euromaidan) que terminam por gerar a destituição de Yanukovich em janeiro de 2014. Nesta revolta de 2014, já é evidente a atuação de grupos ultranacionalistas de extrema-direita, alguns abertamente neonazistas, além do apoio político e midiático dos EUA e da UE à revolta, sem falar do apoio econômico às organizações antirrussas. Há uma escalada de violência contra a esquerda e contra ucranianos de origem russa que culmina com a criação de duas regiões autônomas no leste ucraniano, em Donbass e Luhansk. É também neste momento que a Rússia realiza a anexação da península da Criméia, cuja população em referendo posterior aprova tornar-se parte da Rússia.


A partir de 2014, a orientação dos governos ucranianos, é de se aproximar da UE e dos EUA, almejando a entrada na OTAN e mantendo um estado de tensão continuada com a Rússia. Os governos nacionalistas ucranianos agem, portanto, como pontas de lança dos interesses geopolíticos ocidentais, particularmente dos EUA. A aproximação da Rússia com a China e o lançamento da iniciativa da Nova Rota da Seda, apontando para um reordenamento das esferas de produção e comércio do capitalismo global, só fazem aumentar os atritos entre EUA e Rússia. Neste processo, os governos ucranianos agiram, visando a criação de um ambiente ideológico apropriado, para normalizar a atuação das organizações ultranacionalistas de extrema-direita, assimilando nas forças armadas ucranianas organizações neonazistas como o Batalhão Azov, e resgatando como heróis nacionalistas membros de organizações militares que lutaram ao lado dos nazistas contra a URSS (p.ex. Stephan Bandera).


A Ucrânia, a partir de 2014, aumentou progressivamente o seu orçamento militar, que passou de 1,4% do PIB, em 2012, para 4% em 2021, um investimento maior do que muitos dos países membros da OTAN, as custas de endividamento externo com potências ocidentais. Sob o governo do presidente Zelensky, eleito em 2019, não só este esforço armamentista se manteve como, em março de 2021, foi anunciada uma diretriz estratégica para recuperar a Criméia. Ao mesmo tempo, as regiões de Donbass e Luhansk são alvos de ataques continuados de forças armadas ucranianas e de milícias nacionalistas desde 2014, a despeito do acordo de Minsk de 2015 para resolução do conflito. Ainda durante 2021, a Ucrânia recebe drones militares da Turquia através de acordo assinado em 2019 e que previa a instalação de uma fábrica turca de drones na Ucrânia.


A retórica antirrussa, estadunidense, que tinha ficado em baixa intensidade durante o governo Trump, volta a se elevar após a eleição do democrata Joe Biden, que demonstra haver a disposição de seu governo em reassumir um protagonismo europeu que tinha sido deixado em segundo plano pela administração trumpista. Isto claramente serviu de sinal favorável para o governo de Zelensky progredir na caminhada armamentista e de um sinal de perigo para Putin, que decide empreender a invasão da Ucrânia para resolver de forma bélica a situação de tensão. A estratégia de Putin revela, porém, que o objetivo é maior do que a garantia da fronteira já existente como reconhecimento das repúblicas de Donbass e Luhansk. O avanço em direção à capital Kiev demonstra que o objetivo é a derrubada do governo ucraniano e a consequente derrota militar da Ucrânia, com a imposição de uma paz sob os termos ditados pela Rússia.


O que temos, portanto, não é uma luta entre uma democracia e um agressor autoritário (como proclamam as potências ocidentais), nem uma luta antigenocídio e antinazista (como proclama a Rússia) nem muito menos uma luta contra o imperialismo estadunidense e europeu (como delira parte da esquerda): o que temos é uma guerra de dois projetos capitalistas, imperialistas, pelas, que consideram, suas áreas de influência hegemônica. Nesta luta, para as potências envolvidas o que menos importa são as populações e suas vidas, mas os ganhos econômicos e de poder que venham a ter.


Nesta luta entre dois projetos imperialistas as consequências para a classe trabalhadora e para os povos em geral serão a deterioração dos níveis de vida e o aumento da exploração, decorrentes dos impactos recessivos sobre a economia global. Dentro de um contexto de crise estrutural do capital, que faz com que cada crise particular tenha uma duração maior e uma recuperação menor, uma nova crise aguda logo após a de 2020/2021, terá um impacto enorme sobre a vida dos trabalhadores. Sanções econômicas agem penalizando as populações dos países sancionados, como bem o demonstram os 60 anos de sanções a Cuba, sem falar da Coréia do Norte, Irã, Venezuela etc. naturalmente os países sob sanção procurarão alternativas para escapar às sanções, como o faz a própria Rússia desde 2014. A economia russa não só tem um peso e uma participação no mercado internacional muito superior que a dos demais países citados, como também Putin se preparou nos últimos anos para as sanções previstas, o que pode fazer com que tenham que ser mantidas por um período prolongado. A imposição das sanções severas já acordadas entre os EUA e as potências europeias, a além do impacto direto sobre a população russa, terão efeitos graves sobre os fluxos de produção e comércio, cujos primeiros sinais já apontam no aumento do preço internacional do petróleo, do trigo, do milho e de fertilizantes, acentuando a tendência inflacionária mundial.


Soma-se a isso o financiamento e armamento dos grupos neonazistas ucranianos para os quais já estão fluindo os envios ocidentais de armas e munições, Estes grupos têm conexões internacionais, com fluxo não só de informações, mas de militantes, organizando treinamentos e fomentando a criação de grupos e células. Basta lembrar dos grupos neonazistas brasileiros, apoiadores de Bolsonaro, que chamavam pela “ucranização” do Brasil, e, dos quais alguns membros se vangloriam de terem recebido treinamento na Ucrânia. Há a possibilidade real de expansão de organizações de extrema-direita, fascistas e neonazistas, na esteira da guerra da Ucrânia, qualquer que seja seu desfecho.


É, portanto, dever de todos os que militam pelo socialismo, contra o capitalismo e contra o imperialismo, denunciar esta guerra como uma guerra imperialista na qual, se a Rússia é a potência invasora, ambas são parte de uma escalada de agressão, fazendo a Ucrânia o papel de preposto do imperialismo estadunidense e europeu.



Precisamos apoiar e nos somar às mobilizações, exigindo:


- Não à Guerra!

- Fora OTAN e Putin da Ucrânia!

- Pelo cessar-fogo imediato e negociações de paz!

- Não às sanções econômicas contra a Rússia!

- Pelo fim da OTAN!


05/03/2022


PARA UM NOVO COMEÇO – Centro Político Marxista

1 Comment


195dina
Mar 06, 2022

Muito bom; havia pensado, exceto o PSTU que vem denunciando, os demais partidos e organismos de direita. Nada dizem. O máximo dizem não a guerra mas não tem denunciado o que está por trás de td isso. A imprensa burguesa dar uns toques muito tímido. Tipo a Rússia não quer que a Ucrânia entre na OTAN. Mas não explica o significado isso. Seria importante um boleto com este conteúdo para ser distribuído no metrô e grandes aglomerações. Valeu Novo Curso.

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