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BALANÇO ELEIÇÕES 2020: CONTRADIÇÕES, DESAFIOS E POSIÇÃO NO 2º TURNO

  • paraumnovocomeco
  • 10 de abr. de 2021
  • 6 min de leitura

24/11/2020


Nota Política sobre o 1° turno das eleições municipais de 2020


Nas eleições municipais de 15/11 observamos uma mudança na distribuição de poder na política institucional brasileira, que se reflete nos candidatos eleitos para prefeitos e vereadores nos 5.568 municípios brasileiros.

A primeira observação, é que os candidatos claramente apoiados por Bolsonaro, para os quais chamou voto diretamente, foram amplamente derrotados: de 13 candidatos a prefeito apoiados, dois foram eleitos (em Parnaíba-PI e Ipatinga-MG) e dois concorrem ao 2º turno, porém, não sendo favoritos (Crivella no Rio de Janeiro e Capitão Vagner em Fortaleza); dos 45 vereadores apenas sete foram eleitos, sendo um seu filho Carlos, que foi reeleito no Rio de Janeiro com menos 34% de votos, em relação a sua votação de 2016.

Se o apoio direto de Bolsonaro não se traduziu em resultado eleitoral, refletindo a rejeição de seu governo, os partidos de direita e extrema-direita tiveram um melhor desempenho, ampliando o número de cidades governadas e o número de vereadores. O DEM foi o que mais cresceu em número de prefeituras, sendo três capitais e com grande chance de eleger o prefeito do Rio de Janeiro no segundo turno; PSD, PP e PL pela direita fisiológica, cresceram, enquanto o MDB, e, principalmente o PSDB, reduziram seu alcance (embora o MDB permaneça o partido com maior número de prefeituras). Nos partidos alinhados a extrema-direita, houve aumento no número de votos do Avante, Patriotas, Pros, PSC e PSL, que abrigam a maioria das candidaturas reacionárias ligadas ao fundamentalismo religioso.

Uma consideração importante a ser feita, refere-se ao partido Novo. Aliado do Bolsonaro no congresso e a frente do governo de Minas Gerais, não obtiveram o avanço eleitoral que esperavam ter.

Nos partidos de esquerda, houve retração dos votos em geral, porém com diferenças entre os partidos. Destes, o PT foi o partido que teve mais perdas, mantendo a tendência de retração observada desde 2012. O PC do B e o PDT (que a depender do município ou da região do país, é de direita, de centro-direita ou de centro-esquerda) tiveram reduções de seus votos. O PSOL foi o único partido de esquerda a ter um crescimento eleitoral, aumentando sua bancada de vereadores e assumindo 4 prefeituras.

É importante assinalar, por fim, que houve um número recorde de abstenções nas eleições deste ano, que pode ser em boa parte explicada pelo contexto da pandemia, mas também pode ser reflexo da precarização do trabalho (levando a um maior número de pessoas necessitando trabalhar em finais de semana) e do próprio desencanto com o processo eleitoral. Na capital paulista e carioca o nível de abstenção chegou respectivamente a 29% e 37%; se somados aos votos em branco e nulos, em ambas as capitais estes não-votos superaram os votos dos candidatos que ficaram em primeiro lugar no 1º turno.

Destes resultados, pode-se inferir que, em relação a 2018, houve um esvaziamento do alinhamento à política diretamente vinculada ao bolsonarismo, com o seu discurso conspiracionista e anticomunista virulento, e um retorno a políticos mais vinculados à direita tradicional, conservadora, mas que busca apresentar ações concretas e não apenas retórica. Isto não significa que a pauta conservadora, alinhada ao fundamentalismo religioso tenha enfraquecido mas que, perante a ineficiência evidente do governo Bolsonaro, ela volta a se deslocar para representantes com discurso mais tradicional. Ao mesmo tempo, esta derrota coloca Bolsonaro ainda mais refém do Centrão, que já controla a maioria do Congresso Nacional, o que o obriga a fazer alianças com as forças políticas das quais tentou se distanciar, entrando em contradição com a retórica voluntarista e belicosa que usa para manter sua cada vez mais estreita base popular.

No campo da esquerda, a redução geral de votação apresenta particularidades que devem ser observadas. Embora elegendo menos prefeitos e vereadores, houve uma maior proporção de novos candidatas e candidatos, ligados a pautas específicas (feministas, movimento negro, LGBTQI, ecossocialistas, etc..) e candidaturas coletivas, muitos dos quais, foram eleitos. Isto se mostrou no crescimento do PSOL, mais aberto a estas candidaturas, enquanto que as demais legendas de esquerda reduziram-se em seus percentuais eleitorais. Apesar disso, vimos a eleição de mais mulheres, em especial negras e jovens, por legendas de esquerda e a eleição de candidaturas coletivas. Outras particularidades, relacionam-se ao maior número de candidaturas trans (294), sendo que, 25 foram eleitas (sendo uma, Duda Salabert – PDT, a mais votada de Belo Horizonte) e o maior número de candidaturas que se declararam indígenas. Outro ponto a se ressaltar foi o fato de parte da esquerda voltar a interagir com a periferia, com muitos ativistas e militantes atuando, mesmo que com limites, para disputar os rumos políticos contra a direita e extrema-direita.

Tendo em vista a ofensiva ideológica da extrema-direita, desde antes da eleição de Bolsonaro contra as pautas feministas, LGBTQI, indígenas e antirracistas, ofensiva esta que se tornou eixo do governo, este resultado mostra que já está em curso uma reação dos setores sociais que foram eleitos como alvos pelo neofascismo brasileiro.

Esta mudança no perfil dos candidatos eleitos também mostra-se como resultado de um trabalho da militância de base dos partidos no sentido de criar novos quadros para a disputa eleitoral a partir das experiências de luta cotidiana. Isto é claramente visto nas candidaturas do PT eleitas através do Movimenta PT, articulação de formação política da Juventude do PT, e das candidaturas coletivas eleitas pelo PSOL em São Paulo (Quilombo Periférico e Bancada Feminista).

Se este resultado aponta para uma possível renovação pela base nos partidos da esquerda institucional, apesar da redução de alcance, é importante ressaltar que houve uma opção dos partidos, mesmo o PSOL, de um rebaixamento de suas propostas nas candidaturas majoritárias para procurar aumentar seus resultados eleitorais.

Se dentro da lógica eleitoral esta tática pode ser considerada racional, do ponto de vista do enfrentamento político à direita e ao neoliberalismo ela acaba favorecendo à despolitização e prejudicando o próprio objetivo principal da luta socialista.

A forma de conseguir que estes sinais iniciais de recomposição das forças de esquerda se transformem em uma real força alternativa anticapitalista, antirracista, feminista é reforçar junto à militância de base o debate sobre: a crise que enfrentamos: as alternativas para superá-la; as táticas e estratégias a serem adotadas.

Neste contexto, a presença de candidatos de esquerda no segundo turno em capitais e em alguns colégios eleitorais importantes no país (Guarulhos, por exemplo) constitui um embate com as forças políticas da direita e extrema direita, ainda que as pautas estejam rebaixadas, e podem dar espaço para que se coloquem questionamentos sobre o ordenamento capitalista das cidades.

O embate ao neofascismo e ao conservacionismo e, fundamentalismo religioso das igrejas neopentecostais não é página virada e ainda perdurará por algum tempo.

Em São Paulo (Guilherme Boulos) e em Belém do Pará (Edmilson Rodrigues) o PSOL realiza campanha para o segundo turno que tem real chance de conquistar a prefeitura. Em São Paulo, especialmente, a campanha de Boulos/Erundina, com uma estratégia de comunicação inovadora e fazendo uso inteligente das redes sociais, conseguiu suplantar adversários na direita e na esquerda e colocar em pauta a questão da habitação e da divisão de classes do espaço urbano.

Em Recife (Marilia Arraes) e Vitória (João Coser) pelo PT e em Porto Alegre (Manuela D’Ávila) pelo PC do B a disputa coloca desde quadro tradicional (Coser) até uma dissidente da oligarquia local (Marília) com candidaturas que apresentam diferenças positivas em relação aos seus adversários da direita, mas que mantém uma relação burocratizada e vertical em relação aos movimentos populares e suas lutas.

Perante este quadro e considerando a importância que assume a vitória de uma candidatura de esquerda no contexto nacional da luta contra a extrema-direita consideramos que é válido o apoio crítico às candidaturas do PSOL, pela sua maior abertura em relação às lutas anticapitalistas, e o voto útil às candidaturas acima nomeadas do PT e do PC do B, apesar do histórico das direções destes partidos de aparelhamento dos movimentos sociais e de conciliação de classes.

Já no Rio de Janeiro a disputa se dá entre Marcelo Crivella (Republicanos) e Eduardo Paes (DEM). Crivella, bispo da Igreja Universal do Reino de Deus, colocou em sua gestão a máquina pública municipal a serviço da agenda política de sua igreja e da cooptação de outras denominações evangélicas para seu projeto.

Alinhado a Bolsonaro, Crivella foi um fiel propagador da agenda reacionária e fundamentalista religiosa e como administrador conseguiu fazer com que os serviços público municipais se tornassem ainda mais ineficientes, além das várias denúncias de corrupção que é alvo.

Eduardo Paes, foi o prefeito que levou à frente a agenda das empresas de transporte e dos especuladores imobiliários, que realizou a desapropriação e despejo de milhares de famílias para as obras da Copa e terminou seu mandato com diversas investigações de corrupção.

Se não há dúvida que a palavra de ordem para o segundo turno do Rio de Janeiro é “Fora Crivella”, por outro lado não é possível chamar o voto em Eduardo Paes com o seu projeto de um Rio de Janeiro cidade-empresa e socialmente cindida.

Por fim, temos um longo um caminho pela frente de enfrentamento à ordem capitalista, aos ataques dos seus governos de plantão e de superação da crise de alternativas socialistas que ainda leva parcela significativa dos trabalhadores a verem como alternativa política a direita, a extrema-direita e o centrão.

Apesar dos limites e dos condicionamentos que possam criar, o 2º turno das eleições municipais criando um ânimo considerável na vanguarda de luta e está colocando no centro do debate político, sobretudo, em SP, as demandas das periferias, o que pode levar à uma maior politização e, portanto, enfrentando o conservacionismo das igrejas neopentescostais.

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