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ARDE A AMÉRICA DO SUL CONTRA O NEOLIBERALISMO!

  • paraumnovocomeco
  • 28 de fev. de 2021
  • 5 min de leitura

05/11/19


As massivas manifestações que vêm realizando o povo trabalhador e os estudantes chilenos; a resposta do governo de Sebastián Piñera, que não vacilou em desencadear a mais brutal e feroz repressão contra o povo mobilizado e que, até a presente data, levou ao horripilante saldo de mais de 20 mortos, centenas de feridos e 9,2 mil presos fora várias denúncias de torturas. Uma repressão com o exército nas ruas e que inclui medidas que não se viam desde a ditadura de Pinochet, como o toque de recolher, o qual vem sendo desafiado pelos estudantes e pelo povo, que agora exigem a renúncia de Piñera.

Este é o episódio mais recente de uma série de processos de resistência e rebeliões populares que percorrem nosso continente. Estes levantes populares, ainda que se desenvolvam com diferentes intensidades e com evidentes diferenças, têm em comum a recusa dos pacotes de medidas antipopulares impostos pelo FMI e pelo imperialismo. Os governos de perfil neoliberal vêm aplicando há anos essas medidas que representam ajustes brutais que afetam o poder aquisitivo dos trabalhadores, produzem a queda acentuada do nível de vida, levam a altos níveis de desemprego, à perda de direitos trabalhistas, a privatizações indiscriminadas de empresas públicas e ao endividamento por décadas de nossos países. A aplicação sistemática de semelhantes programas tornou insuportável a vida da ampla maioria do povo trabalhador, que sofre na própria carne as graves consequências destas medidas e que vê que empobrece ano após ano sem aparente remédio. E, ao mesmo tempo em que são obrigados a suportar esta dura realidade, veem como no outro extremo da sociedade grupos econômicos cada vez mais restritos e poderosos não param de enriquecer.

Pouco antes da explosão das manifestações no Chile, cujo estopim foi o aumento das passagens de metrô, assistimos também a manifestações massivas no Equador contra o pacote anunciado em 1º de outubro pelo presidente Lenin Moreno. Protestos que se estenderam rapidamente a maior parte do país e que tiveram o ápice quando, em 4 de outubro, o movimento indígena equatoriano decidiu entrar em cena. Este movimento conta com uma grande experiência e uma reconhecida capacidade de organização e luta e rapidamente a revolta se radicalizou, participando também o movimento sindical e amplos setores da juventude. Também aqui a repressão foi feroz, com 8 mortos (número que pode aumentar pois há denúncias de pessoas desaparecidas), 1300 feridos e 1200 detidos.

O resultado até agora desta luta foi a retirada por parte do governo do decreto 883 que estabelecia as medidas econômicas mais rejeitadas como o fim do subsídio ao preço do combustível, com seu consequente aumento para pelo menos o dobro do preço anterior. Mas isto não resolve em nada a situação. Há toda uma série de medidas que o governo ameaçou aplicar e que atacam diretamente os direitos dos trabalhadores como uma redução de até 20% dos salários de contratos temporários no setor público, assim como a redução das férias de 30 para 15 dias para funcionários públicos e contribuição de um dia do salário mensal, entre outras.

Depois da negociação até chegar a este acordo, com a mediação da ONU e da Conferência Episcopal, as mobilizações cessaram no Equador e iniciou-se uma situação muito incerta pois o governo continua no poder e não renunciou à aplicação de medidas alternativas que permitam cumprir os acordos firmados com o FMI. Precisa arrecadar 4 bilhões de dólares e nada indica que abandonou este objetivo. No momento desencadeou uma nova perseguição contra os dirigentes correístas (o movimento político de Rafael Correa, presidente anterior do Equador, de quem Lenin Moreno foi vice-presidente entre 2007 e 2013). Rafael Correa fez muitos esforços para se colocar à frente das propostas, tentando capitalizá-las e chegou mesmo a lançar sua provável candidatura a futuro presidente do Equador. Porém ele e seu movimento, longe de serem reconhecidos pelo movimento indígena e popular, estão desacreditados em alguns setores e amplamente repudiados em outros. O governo está se aproveitando disto para aumentar a divisão e perseguir dirigente e associados do movimento político de Correa. Como dissemos, o resultado final é incerto, porém o preço que teve que pagar o movimento indígena e popular é muito alto e também se conta em mortos, feridos, presos e desaparecidos. O mesmo ocorre no Chile.

Em outros países do nosso continente também acontecem processos de resistência e repúdio aos planos neoliberais impostos pelo FMI e pelas potências imperialistas, ainda que se deem por outras vias, por estarem em meio a processos eleitorais, como acontece na Argentina, que após suportar quatro anos de aumentos de tarifas, o ajuste, a brutal inflação e a condenação de milhões à pobreza, teve uma verdadeira rebelião expressa nas urnas das eleições primárias de agosto passado, que surpreendeu a todos, dando o enorme triunfo de mais de 50% de votos à única opção que aparecia com possibilidades de expulsar Mauricio Macri do governo, a fórmula Alberto Fernandéz e Cristina Kirchner. Nas eleições de 27/10 esses resultados foram confirmados (embora que não na mesma magnitude) e esses agora serão os ocupantes do governo argentino.

As massas argentinas fizeram o que seu instinto de sobrevivência apontava, que era apelar para a alternativa mais real que lhes permitisse tirar o mais rápido possível o governo que mais causou a fome nas últimas décadas. Macri se prepara para abandonar o poder deixando atrás de si uma catástrofe social com um número inacreditável de pobres, uma indústria arruinada que viu no último ano pequenas e médias empresas fecharem as portas a um ritmo de quarenta e cinco empresas por dia. Um país endividado e com uma inflação superior a 50% ao ano.

Para nós é evidente que a alternativa Fernandéz-Kirchner não representa nenhuma opção de saída real à crise em que o país está afundado e muito menos é solução para os problemas da economia, para a recuperação do emprego, para o déficit habitacional, para a crise da educação entre outros problemas que exigem soluções urgentes e de fundo.

Os trabalhadores e o povo argentino terão que se preparar para não baixar a guarda e manter sua capacidade de mobilização e luta para defender seus direitos e lutar por suas reivindicações.

Esta nova fase que se abre na luta de classes na América Latina será certamente atravessada por novos e duros enfrentamentos, onde os explorados e suas organizações medirão forças com seus inimigos de classe, as oligarquias de todo tipo e os exploradores e seus governos servis aos interesses imperialistas. Do resultado destes embates dependerá o futuro de nossos povos e de nossa juventude.

Mesmo que momentaneamente haja refluxos ficarão processos permanentes de organização de base fundamentais para ir reconstruindo a subjetividade da classe trabalhadora e popular. Ao mesmo tempo serão necessários intervenção e construção de um programa e uma saída anticapitalista e socialista para a América Latina para além dos governos progressistas, pois os problemas são estruturais e exigem saídas desse tipo. Cabe à esquerda ajudar o desenvolvimento desse processo e ao mesmo tempo (re)aprender com ele.


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