A DOMINAÇÃO DO AGRONEGÓCIO NA REGIÃO AMAZÔNICA E O APOIO AO GOVERNO DE BOLSONARO
- paraumnovocomeco
- 16 de out. de 2021
- 4 min de leitura
UMA LÓGICA DE DESTRUIÇÃO DA VIDA HUMANA E DO MEIO AMBIENTE
14/10/2021

Nos atos em apoio ao governo de Bolsonaro ficaram evidentes quais setores ainda estão sustentando seugoverno. Entre estes setores está o agronegócio. Embora, tenha ocorrido uma queda significante de suapopularidade, Bolsonaro atende aos interesses desse setor. Na região amazônica, nos últimos anos, o agronegócio tem avançado seus domínios de influência de modo sistematizado na organização econômica e política local e integrado à dinâmica nacional e global do sistema capitalista. A política de incentivo à expansão da agricultura intensiva na região tem gerado lucros significativos para os grandes latifundiários que cada vez mais ampliam as fronteiras agrícolas, com extensas áreas de terras destinadas ao cultivo da soja e para a criação de gado.
Embora na estrutura política do governo de Bolsonaro existam algumas divergências entre os grupos quese articulam no poder, que parece se desgastar no momento, no campo econômico há um consenso, uma vez quesuas demandas vêm sendo amplamente atendidas.
A questão que se coloca para os movimentos sociais e os partidos de esquerda que se posicionam claramente contra essa política de destruição no Brasil, nesse momento em que se apresenta uma crise política, é como organizar um projeto que viabilize ações imediatas contra esse gove rno, sem perder de vista a necessidade de também analisar, intervir e elaborar projetos que possam disputar o poder político, sem se abster mas também sem se deixar cooptar nas próximas eleições, contemplando as necessidades da classe trabalhadora.
Segundo os dados disponíveis pela Secretaria de Agricultura dos estados que compõem a região Norte - Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) -, em alguns casos como por exemplo Rondônia, a meta para a agricultura e pecuária era aumentar a produtividade em torno de 20% até 2023, mas esta expectativa foi ultrapassada já em 2020.
Além dos altos rendimentos obtidos junto ao capital financeiro, devido à integração da produção local ao comércio externo por meio das commodities, esse setor também possui um amplo apoio parlamentar no âmbito da política estadual e federal que atuam como defensores das pautas de ampliação da fronteira agrícola. Essas pautas incluem, facilidades para a grilagem de terras públicas em áreas de conservação da biodiversidade, onde estão os territórios dos povos e comunidades tradicionais da Amazônia; a utilização indiscriminada de agrotóxicos, inclusive aqueles que antes eram proibidos e que atualmente foram autorizados, produzindo graves consequências ao meio ambiente e à população local.
Outra questão que confirma essa estrutura dominante do agronegócio na região, são os conflitos agrários que reforçam o poder do “boi e da bala”. Segundo a Comissão Pastoral da Terra (CPT), 60% dos conflitos agrários do Brasil são registrados na Amazônia e Rondônia é o terceiro estado da Amazônia Legal com mais conflitos no campo. Esses conflitos estão diretamente ligados às invasões em Terras Indígenas e Unidades de Conservação. Das famílias vítimas de invasão em 2020, 71,8% são indígenas, comunidades extrativistas, comunidades quilombolas. No ranking global, o Brasil aparece na quarta posição assassinatos por defenderem seus territórios, o direito à terra, seus meios de subsistência e o meio ambiente.
A lógica do agronegócio aplicada à região, exige uma demanda cada vez maior por novas áreas de terras para a expansão da pecuária, e isso tem impulsionado também a valorização do preço da Terra. Nesse contexto, a agricultura familiar que ainda se apresenta como responsável pela produção de alimentos para o consumo interno, tem sido atingida diretamente pela lógica do agronegócio na região. Segundo a FETAGRO, os cortes realizados pelo governo federal no Plano Safra 2020/2021 tem causado impactos negativos aos pequenos agricultores que garantem o acesso a alimentos mais saudáveis e a soberania alimentar.
A articulação do agronegócio, dentro da lógica da globalização do Capital, não se restringe ao processo produtivo das pequenas propriedades rurais. Os acordos políticos organizados pelos ruralistas, juntamente com alguns setores empresariais e financeiros aliados ao governo federal, têm priorizado medidas que diminuíram parte dos recursos públicos para os programas de fortalecimento à agricultura familiar. Em contraposição, o governo disponibilizou enormes quantias de recursos em créditos para financiar o agronegócio.
Esse ataque à agricultura familiar se dá pelo fato de que ela ainda representa uma barreira à concentração fundiária na região amazônica. As estratégias são diversas, por exemplo o caso de algumas pequenas propriedades, próximas às grandes fazendas serem arrendadas para o cultivo da monocultura da soja. Ao tornarem-se pressionadas pelas condições econômicas impostas pelo agronegócio, as pequenas propriedades sofrem modificações nas relações de trabalho. Muitos camponeses, principalmente jovens, vão para as cidades
próximas ou para as grandes fazendas se submeter ao trabalho precarizado.
Percebe-se que a estrutura dominante do agronegócio na região amazônica, também se dá a partir de uma construção ideológica, de reprodução do capital, uma espécie de corrente que determina a relação dependência econômica de outros setores que compõe a dinâmica social e cultural. Por exemplo, a instalação de pequenas e grandes instituições financeiras como as cooperativas de créditos apoiadas pelo BNDS, os setores dos médios e grandes empresários que fornecem os insumos agrícolas e pecuários, empresas de transportes, e até alguns setores da classe trabalhadora que fazem essa engrenagem funcionar, o que acaba constituindo um grupo de apoiadores da política adotada pelo atual governo. De modo mais evidente, foi o caso de caminhoneiros que empreenderam um movimento de apoio a tentativa de golpe no dia 7 de setembro.
A questão que se coloca para os movimentos de resistência frente a essa estrutura política e econômica do agronegócio na região é desafiadora. Sua estrutura parece muito bem elaborada, uma vez que detém amplo poder de dominação respaldado pelo Estado. No entanto é preciso urgentemente que os movimentos sociais do campo e entidades que compõem a Via Campesina, Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), Movimento dos
Atingidos por Barragens (MAB), Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Comissão Pastoral da Terra (CPT) e alguns sindicatos que representam a classe trabalhadora se articulem com ações junto da base da classe trabalhadora, de modo que ela possa compreender a real necessidade de se organizar para resistir à lógica que vem sendo implementada pelo agronegócio na região, promovendo graves impactos que comprometem a vida humana e o ambiente.
- Campanha e manifestações nacionais pelo fim das queimadas e da destruição da Floresta e ecossistemas.
- Reforma Agrária com o fim do latifúndio. Que as terras ociosas sejam apropriadas pelos movimentos de trabalhadores rurais sem terra.
- Verbas e financiamento para os projetos de agricultura familiar e para produção de alimentos e não monoculturas.
- Fim do agronegócio e da lógica do capital no campo, com a sua substituição por um sistema agroecológico de produção de produção de alimentos sob controle d@s trabalhador@s
Outubro de 2021
Para Um Novo Começo – Centro Político Marxista
Fontes:
https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/agronegocio/281840-agronegocio-de-rondonia-avanca-e-bate-recordes-de-exportacao-e-producao-agricola-em-2020.html#.YTu-B45Kjb0
https://ojoioeotrigo.com.br/2021/06/mais-cancer-mais-alteracoes-hormonais-mais-intoxicacoes-e-mais-contaminacao-ambiental/
http://www.fetagpb.org.br/2021/04/13/cortes-no-orcamento-federal-prejudicam-agricultura-familiar/
https://amazonia.org.br/amazonia-perdeu-cerca-de-44-milhoes-de-hectares-para-agropecuaria-em-35-anos/
http://cptrondonia.blogspot.com/
https://cultura.uol.com.br/noticias/dw/59163369_brasil-e-o-4o-pais-mais-perigoso-do-mundo-para-
ambientalistas.html
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