2021: PANDEMIA, REESTRUTURAÇÃO DO CAPITAL E LUTAS NUM NOVO CONTEXTO
- paraumnovocomeco
- 25 de dez. de 2021
- 5 min de leitura
24/12/2021

2021 foi marcado pelo desenvolvimento da crise econômica, social, ambiental, e interligada com a pandemia. Essa crise estrutural do capital (István Meszáros), conheceu em 2020-21 um novo momento de aprofundamento. Ao mesmo tempo essa crise ficou em grande medida encoberta pela pandemia, uma contradição, já que a própria pandemia é uma de suas expressões e certamente não será a última. O padrão capitalista de criação massiva de rebanhos e destruição dos habitats naturais produz um ambiente favorável para surgimento e propagação de novos vírus e a lentidão das vacinas possibilita o surgimento de novas variantes. No entanto, a crise apareceu como causada pela pandemia e não pelo sistema do capital, suas personificações e Estados Nacionais, o que dificultou a compreensão e enfrentamento daquilo que vem sendo uma das mais profundas reestruturações do capital das últimas décadas.
É bem verdade que medidas de reestruturação do capital vinham em curso, mas com a pandemia se aceleraram e se aprofundaram. Em primeiro lugar, o desemprego e a sobrecarga de trabalho dos que permanecem empregados, criam um terreno favorável para que o capital e os governos retirem direitos históricos e disseminem o trabalho precário e temporário, além, é claro, da propagação de um grande número de trabalhos informais. A proporção de trabalhadores sem registro que já era superior aos com carteira assinada vem aumentando ainda mais. Com esse quadro e com a redução das parcelas do Auxílio Emergencial, que já eram baixas (600,00) para algo em torno da metade, aumentaram drasticamente a fome e a população em situação de rua.
No entanto, o agravamento da pandemia que chegou a matar mais de 4 mil pessoas por dia e mais de 600 mil pessoas até agora, levou a uma luta contra o negacionismo (que no início era forte), contra o retorno presencial das aulas, em manifestações e campanhas pelas redes sociais, nos bairros e também às greves sanitárias e varias formas de resistência pela vida. Também houve vários momentos de luta contra a fome e campanhas de solidariedade que vêm servindo para ampliar a mobilização e organização popular, com destaque para as cozinhas solidárias do MTST, a ampliação das hortas comunitárias, as ocupações campanhas contra os despejos, etc. As lutas indígenas contra o garimpo e contra o chamado “Marco Temporal”, como o grande acampamento indígena em Brasília, também merecem destaque. Vimos a retomada das lutas de setores precarizados como entregador@s por aplicativos, algumas categorias de transportes por reposição salarial, a greve de trabalhador@s do Metrô, pela manutenção dos direitos trabalhistas.
Apesar de seus muitos limites, a instalação da CPI da COVID trouxe à tona denúncias de descaso e corrupção que tinham impedido/atrasado a compra de vacinas, provocando a morte de milhares de pessoas. Toda essa situação, mais o processo de dolarização da economia que gerou a maior carestia das últimas décadas, somados aos inúmeros desmandos e autoritarismos em tidas as áreas deu origem aos Atos e Movimento Fora Bolsonaro. Esse movimento reuniu em Atos massivos uma enorme diversidade de movimentos sociais: raciais, das mulheres, LGBTQIA+, ambientais, etc. Embora não tenha conseguido a abertura de nenhum dos mais de 100 pedidos de impeachment no Congresso, foi um movimento importante para dar visibilidade e responsabilizar Bolsonaro e seu governo, assim como dos seus ministros militares, pelo total descaso no tratamento da pandemia, assim como a carestia absurda e as várias denúncias de corrupção. Se hoje o Brasil possui em torno de 70% de sua população vacinada com as duas doses e redução drástica nas mortes, isto se deve, em parte, a esse movimento pelo Fora Bolsonaro.
As direções majoritárias do movimento, em particular o PT, tiveram como estratégia não a ampliação da luta para a derrubada do governo, mas a preparação para as eleições de 2022, e, com isso, a já antecipação da campanha Lula 2022. Isso aliado ao contexto geral de dificuldades de mobilização pela pandemia, citadas acima, levou que a partir de setembro fomos tendo uma estagnação e refluxo desse movimento.
Bolsonaro e setores que ainda o apoiam, fizeram uma demonstração de força através das infames motociatas e, logo em seguida, o chamado ao 7 de Setembro que, no entanto, não conseguiu nem de longe a amplitude desejada, ao chamar as massas para as ruas, na defesa de seu governo e de uma linha golpista. Mas, no dia seguinte, um acordo entre Bolsonaro, Temer e Alexandre de Moraes, ao mesmo tempo que impedia o impeachment, freava (mesmo que momentaneamente) o discurso golpista de Bolsonaro, com o compromisso de destravar a agenda econômica, o Auxílio Brasil e buscar com o Centrão.
Apesar de inúmeras críticas e de uma ruptura de vários setores, a burguesia ainda preferiu e prefere a continuidade do governo para não travar a agenda econômica antipopular.
A aprovação da Emenda Constitucional que literalmente deu um calote nos Precatórios em 2021, liberou 90 bilhões para o governo e o Centrão, marcando a opção dos parlamentares e grupos econômicos até agora pela polarização Lula x Bolsonaro. Uma 3ª Via segue em gestação com Moro, embora sem muitos resultados concretos até agora. No entanto, mesmo com o arrefecimento da pandemia, a crise econômica, assim como o perfil destrutivo do governo Bolsonaro mantém a baixa avaliação do governo e sua rejeição alta.
O PT indo mais à direita em sua política de conciliação de classes, procura ser reaceito pelo empresariado para a disputa das eleições 2022, com Lula se pronunciando como candidatura de centro, defendendo a transformação de estatais em empresas mistas (uma forma de privatização) e também buscando um vice de confiança do empresariado; até o momento o nome cotado é o de Alckmin. O empresariado não quer mais apenas cartas de intenções e sim garantias bem concretas.
O PSOL não lançou e não deve ter candidatura própria, buscando, com isso, o diálogo de suas candidaturas junto aos eleitores de Lula. E vão partir para a busca da manutenção dos atuais mandatos ou o seu aumento.
O próximo ano, estará muito marcado pela estagnação econômica, mas, com a implementação do Auxílio Brasil de um lado e pelas eleições de outro, poderão encobrir a estagnação e recessão técnica. O cenário será mediado pela disputa eleitoral. No entanto, os graves problemas sociais e os ataques da reestruturação do capital estarão todos aí nos afetando: a carestia, salários defasados, desemprego e subemprego, crise social, contrarreformas como a Administrativa, que visa acabar com a estabilidade do funcionalismo público e assim impedir que esse setor seja um dos polos de luta e de denúncia das irregularidades políticas, criando as carreiras e progressões por apadrinhamentos, a reforma política, com o semiparlamentarismo, visando eliminar qualquer poder presidencialista caso Lula seja eleito e sofra pressão dos movimentos sociais.
Enfim, mesmo reconhecendo a importância de uma luta pela derrota e Fora Bolsonaro ainda que pela via eleitoral, os movimentos sociais não podem se pautar unicamente e nem prioritariamente pelas eleições, até por que diante da profundidade da crise e dos ataques, das amarras institucionais, repressão de Estado e também diante da direitização cada vez maior de Lula e do PT, mesmo uma vitória dessa candidatura, exigirá a manutenção/aprofundamento das várias formas de resistência e discussão de programas e alternativas políticas.
Desde já deve ser tarefa nossa levantar e discutir junto à população trabalhadora um programa que faça frente às necessidades mais urgentes: contra a carestia e a fome, o desemprego e subemprego, luta por moradia e serviços públicos de saúde e educação, a luta contra todas as formas de opressão racial, de gênero, sexual etc, e, de defesa dos povos indígenas e quilombolas.
PARA UM NOVO COMEÇO - Centro Político Marxista
Dezembro 2021
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