RELATO DO DEBATE “CRISE NA VENEZUELA, GOLPE, INTERVENÇÃO”
- paraumnovocomeco
- 27 de fev. de 2021
- 3 min de leitura
02/05/19
por Vitor Mendes Monteiro (membro do MST - núcleo urbano do ABC)

O debate foi promovido por Para Um Novo Começo - Centro Político Marxista, direto da Venezuela por videoconferência com Stálin Pérez Borges, líder sindical e veterano militante socialista. Stálin é membro da LUCHAS (Liga Unitária Chavista Socialista) e do Conselho Consultivo da Central Socialista dos Trabalhadores Bolivarianos (CBST). A linha de Stálin e do LUCHAS é contra a derrubada de Maduro e a intervenção militar imperialista, mas também crítica aos erros da Revolução Bolivariana, sobretudo no período recente.
Na fala inicial Stálin apontou as reais limitações materiais que tem passado o povo venezuelano, inclusive os militantes sindicais e como essas dificuldades pioram com boicotes da burguesia interna e restrições do comércio exterior pelos EUA e aliados. Quando questionado quais as propostas do LUCHAS para o governo, Stálin apontou: - Aumento de impostos aos banqueiros - Monopólio do comércio exterior por parte do Estado, com vistas a reverter o escoamento ouro e bens naturais, pois hoje ainda está na mão de empresários que agem como atravessadores. - Elevar preço da gasolina e da energia elétrica. - Controle de todo processo produtivo e de circulação da produção agrícola pelas comunas de trabalhadores. A institucionalização das comunas foi um erro. - Aprofundamento (“giro”) da política participativa (apontada como necessidade por Chávez em 2012). - Necessidade de reverter os problemas na construção do PSUV e da central sindical. - Não pagamento da dívida externa
Segundo Stálin, Chávez apontou em 2012 algumas dessas necessidades sobretudo da política participativa após a vitória apertada na eleição daquele ano. Porém quando Maduro assume ele implementa ajustes com características liberais. Atualmente alguns ministros têm proposto privatizar estatais, mas Maduro se coloca contra.
Os vícios de uma economia baseada na renda do petróleo e com pouca diversificação produtiva também apareceu.
Quando questionado sobre quem tem mais força nas ruas, a direita ou a chavismo, Stálin disse que a direita começou 2019 mais forte, o chavismo demorou para reagir, mas hoje é mais forte do que a direita nos atos de rua. Isso porque apesar dos erros do governo Maduro, o povo sabe que a direita tem um projeto que será pior para os pobres. Quando a direita realiza ataques que deixam a Venezuela sem energia elétrica, por um lado eles desgastam a paciência do povo com o governo, mas também expõe que são uma oposição pouco preocupada com o povo.
As mulheres são vanguarda nas lutas contra a direita, uma virtude no processo bolivariano. Contudo, uma companheira do Para Um Novo Começo apontou a falta de políticas de conquistas reais para as mulheres venezuelanas (aborto, contra o feminicídio, por exemplo).
Os movimentos populares e os sindicatos garantiram a defesa da fronteira no episódio da falsa ajuda humanitária e estão presentes nos bairros também.
Grupos paramilitares mercenários ainda estão na fronteira, se movimentando, se preparando, o aparente recuo não é uma retirada. Existe uma combinação entre táticas de guerra oficiais, extraoficiais, de boicotes, ataques à infraestrutura. É a tal guerra híbrida, mas a possibilidade de ataques militares oficiais não podem ser descartados.
Sobre a defesa Stálin fez uma importante ressalva em relação à Rússia e China: A Venezuela não pode se converter num satélite militar das disputas geopolíticas e para isso tem garantir sua própria defesa, esse papel é do exército bolivariano e assim tem sido. China tem apoiado com bens (remédios, máquinas…), mas já existe como tentativa de contrapartida a compra do petróleo venezuelano a preços muito baixos pela China.
Eu fiz dois paralelos da Venezuela com Cuba: A falsa ajuda humanitária tinha como objetivo abrir um espaço no território venezuelano para um foco guerrilheiro da direita, assim como na tentativa de invasão da Praia de Girón (Baía do Porco) em 1961. No caso cubano houve de fato uma batalha na qual o povo e o governo cubano derrotaram os gusanos apoiados secretamente pela CIA. No caso Venezuelano as forças reacionárias recuaram antes de virar uma batalha maior.
Na década de 90 Cuba passou pelo chamado período especial quando, com a queda da URSS, a economia ficou estagnada e o povo passou profundas dificuldades materiais. Só foi possível reverter essa situação replanejando toda produção, sobretudo agropecuária, e num acordo entre governo e o povo e suas organizações.
E finalizei perguntei para Stálin porque o apoio do povo cubano em 61 e na década de 90 foi mais decidido e hegemônico do que dos venezuelanos ao governo na atualidade e a resposta foi: Na Venezuela os corruptos não estão sendo punidos, não existe justiça para os olhos do povo, ainda existem muitos vícios burgueses no PSUV o que deixa o povo desconfiado.
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